sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
Regresso a Hellas Basin
Nikki caminhava no deserto, dando graças por ter o seu fato ainda em bom estado após o acidente com o Rover. Nem queria imaginar o que aconteceria se o fato se danificasse. Naquele momento o seu cansaço era tal, que já nem sentia as pernas. Simplesmente se arrastava, espalhando poeira vermelha a cada passo. Aquela paisagem árida que ao princípio a encantara, agora parecia persegui-la por todos os lados. Nem uma nesga de vida à sua volta. Atrás de si, para além de rochas vermelhas e pó, só um trilho de pegadas arrastadas que já ia longo. Olhou para trás por momentos e já ia prosseguir caminho quando ao longe distinguiu uma nuvem densa e alaranjada. Ajustou a viseira para conseguir uma melhor filtragem da luz solar. Uma tempestade, não. Não agora que já estava a chegar a Hellas. Não agora, com a maior parte dos sensores avariados, com a água a chegar ao fim e sem abrigo à vista. Juntou todas as suas forças e correu. Correu o mais que pôde, desenfreadamente, o vento forte já a fazer-se sentir. Tinha que chegar ao seu destino o quanto antes. Se aquela tempestade a envolvesse, nunca mais conseguiria sair dali. A última tinha durado cerca de um mês. Nikki corria, arfava e embaciava a viseira enquanto respirava, o que fazia com que não visse muito bem o caminho à sua frente. Ao longe mas cada vez mais perto, estava o seu abrigo. Cada vez mais perto, mais perto...
O cansaço foi demasiado. Nikki caiu. Quando abriu os olhos só via pó à sua volta e o vento era já muito forte. Olhou em frente e ainda conseguiu distinguir os contornos da sua nave. Um último esforço e partiria. Arrastou-se por mais uma centena de metros e accionou o comando da porta. Com o vento a fustigá-la, entrou a custo, sentou-se no lugar do piloto e ligou todos os painéis: os dados indicavam que ainda era possível sair dali. Suspirou de alívio. Estava salva. Tão cedo não a voltariam a apanhar em Marte.
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1 comentário:
Bons olhos te vejam Nikki. Não sabes que nesta altura do ano marciano é muito arriscado aventurarmo-nos naquelas paragens? É por isso que todos vão para a Terra festejar o fim do ano (terrestre, claro!) na vã esperança que o próximo seja melhor. E eu sei do que falo porque já vou na minha sétima vida, se não contarmos com aquele incidente (que ia sendo um acidente) que me levaria "desta para melhor"
(Confesso que não tenho pressa nenhuma de ir confirmar a expressão entre aspas)
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