domingo, 8 de abril de 2007

Diálogo

O dia estava quase a terminar quando Jules bateu à porta. Do outro lado só o silêncio respondeu. Tentou novamente. Ouviu então um barulho suave de passos. Pés descalços na madeira, é certo. Uma pausa. A luz acendeu-se lá fora e os ferrolhos rolaram na porta. André abriu e deitou-lhe um olhar incrédulo: "Que fazes aqui, Jules?" Não respondeu. Olhou lá para dentro, como que a convidar-se a si própria para entrar. André abriu mais a porta e afastou-se, enquanto Jules passava por ele sem nada dizer. Ouviu a porta fechar-se atrás dela. Caminhou até à sala e sentou-se. Levantou os olhos e ficou a olhar em volta. André entrou na sala, impávido. Sentou-se também. Durante meia hora assim ficaram. Incapazes. O diálogo nunca tinha sido o seu forte. Demasiadas coisas escondidas, sentimentos reprimidos, medos sabe-se lá de quê. Jules quebrou finalmente o silêncio: "Dás-me água?" André levantou-se, desapareceu por momentos e voltou com um copo cheio. Estendeu-lhe o copo, sentou-se ao seu lado e assim ficaram.

sábado, 7 de abril de 2007

Avança

- Então, que me dizes? Avanço ou não?
- Hummm... parece que tudo é favorável neste momento. Tudo se alinha.
- Mas alinha-se para quê?
- Caramba, o que me perguntaste?
- Perguntei se avançava, mas tu disseste-me que tudo se alinhava, não disseste para quê...
- Se eu disse que tudo é favorável!...
- Bom, pode ser favorável para não avançar.
- Oh, pára com isso. Tudo é favorável no que diz respeito ao que perguntaste, como é óbvio. Tudo se alinha...
- É óbvio para ti, não para mim. Tudo se alinha. Ora se tudo se alinha pode ser para que as coisas prossigam como até aqui. Numa linha ininterrupta, que segue sempre na mesma direcção.
- Pára com a matemática, bolas!
- Bom, está bem. Ok. Tudo é favorável. O alinhamento. Estou a ver. Mas achas mesmo que avance?