Robert agachou-se junto à tábua e observou atentamente. Via-se que a tábua tinha sido deslocada. Tirou o porta chaves do bolso e com a ajuda de uma chave conseguiu levantar uma ponta da tábua e depois deslocá-la para o lado. Apontou a lanterna para o buraco aberto no soalho e viu uma caixa azul a luzir naquele esconderijo.
Um misto de contentamento, culpa e preocupação invadiu Robert, enquanto retirava a caixa debaixo do soalho. E se aparecia alguém? E se ali se encontrasse algo comprometedor? A curiosidade era no entanto mais forte do que tudo o resto e portanto Robert resolveu sentar-se e, tentando manter a calma, abriu a caixa:
Um ramo de flores secas, uma vela meia ardida, dois bonecos de plasticina já ressequidos, uma caixa de CD onde se lia "Bob"... A sua expressão mudou gradualmente de intrigada, para inquieta e incrédula. As suas mãos começaram a tremer quando abriu a caixa do CD e leu a dedicatória no interior. A caligrafia era meticulosamente cuidada:
"Querida Nicole: Para que te recordes dos momentos que passámos.
Sempre teu,
Robert"
Deixou cair a caixa e pegou nos objectos um por um: as memórias percorreram-lhe o cérebro como imagens subitamente iluminadas por flashes. A caminho da casa de Nicole a apanhar flores silvestres à beira da estrada. O rosto de felicidade de Nicole a moldar os cómicos bonecos do seu futuro bolo de noiva, num molde que era tudo menos o tradicional. Aquela noite que tinham passado a conversar até ao amanhecer, iluminados à luz da vela...
A emoção foi demasiada, mais do que conseguia suportar. Tinha sido aliás esse o seu problema. Era felicidade a mais. Queria de volta a sua vida calma e pacata, queria tudo controlado, não queria que nada de imprevisível o surpreendesse! Como era possível que tudo isto tivesse voltado até si? Porque não tinha ficado quieto em casa?
Apressada e atabalhoadamente, colocou tudo na caixa, fechou-a e guardou-a novamente debaixo do soalho, colocando a tábua por cima. Desceu escadas abaixo e saiu dali já sem evidenciar qualquer preocupação de ser visto. Correu para casa e enfiou-se no quarto, com a cabeça a mil.
Epílogo
Nicole pensara que pudesse ter vontade de recuperar aquela caixa um dia. Talvez por isso se tivesse dado ao trabalho de marcar a tábua do soalho da velha casa. Descobrira entretanto um sentimento libertador, e já há muito tempo que não se sentia tão feliz.
Robert desvendara o mistério da velha casa, mas ainda lhe faltava desvendar um mistério ainda maior. O mistério no qual trabalhava agora poder-se-ia mesmo chamar o mistério da sua vida.
4 comentários:
Vá lá! O Robert venceu a inércia e foi até à velha casa. Não o deixes a vaguear sozinho dentro da sua própria solidão. Dá-lhe asas, Angel, e ele voará...
Mas concordo: deixa a rapariga como está!
E se deixasses o Robert ouvir os Pink Floyd?!
Eu pedia mais! Não há mais???! Não me faças isso.
Queriam mais? Não parece acabada a história? Hummm... havia quem achasse que ela estava acabada logo no quarto episódio, caramba!
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