sábado, 12 de janeiro de 2008
X Marks The Spot (3)
Nicole sempre tinha tido uma grande dificuldade em separar-se das coisas. No seu quarto existia uma colecção sem fim de objectos, objectos esses que tinham sempre uma memória associada. Havia a sua primeira boneca, as velas mordidas que tinham ardido no bolo do seu décimo oitavo aniversário, os bilhetes daquela ida ao jardim zoológico, o bocado de tecido que se tinha rasgado do seu vestido quando fora ao parque com o seu primeiro namorado, uma miniatura do seu primeiro carro... e por aí fora. Nos últimos anos, aquela mania de guardar objectos-memória tinha tomado uma nova dimensão. Nicole guardava uma pilha de caixas no armário, cada uma com objectos ligados a uma determinada pessoa ou a uma determinada situação. Quando estava em dia de nostalgia, abria o armário e começava a explorar as caixas, trazendo à memória todas as situações pelas quais tinha passado e revivendo sentimentos.
Ora acontece que havia uma caixa que ultimamente a perturbava bastante: a caixa do Bob. Bob fora o seu último grande amor, que saíra da sua vida sem qualquer explicação lógica aparente. Não tinha saído para comprar cigarros e desaparecido, não, mas a situação podia assemelhar-se a essa. Bob tinha simplesmente decidido que era altura de mudar de vida, e de um dia para o outro pôs termo a tudo, cortou amarras e partiu. Aquela caixa tinha-se tornado então num conjunto de memórias extremamente dolorosas. Só de olhar para ela, conseguia ver o seu conteúdo, como se tivesse visão de raios-X, e todas as memórias ficavam a pairar na sua cabeça.
Naquele dia à noite, Nicole decidiu que tinha que se livrar da caixa. Bem pensado, bem feito, Nicole abriu o armário, pegou na caixa de cartão azul, vestiu o fato de treino e saiu porta fora.
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