sábado, 20 de janeiro de 2007
A travessia
Lia olhou em volta, meia atordoada, sem qualquer ideia do que estava a fazer naquele lugar. Estava ao pé de uma ribeira, no meio de uma floresta e tinha uma sacola a tiracolo. Sentou-se na margem e abriu a sacola. Lá dentro tinha alguns frutos, um pergaminho, uma pedra azul brilhante e uma caixa de madeira, com desenhos gravados a ouro. Tentou abrir a caixa, mas estava fechada à chave. Procurou na sacola, em busca de uma chave que pudesse abrir a caixa. Nada. Virou a sacola do avesso e sacudiu-a. Nada. Voltou a pôr tudo lá dentro à excepção do pergaminho, que abriu e começou a ler. Apesar de ter muitas coisas escritas que Lia não entendia, era fácil de perceber que parte do conteúdo do pergaminho era um mapa para chegar a um castelo. Seria para lá que ela se dirigia? De qualquer forma parecia não ter muitas alternativas, portanto começou a tentar perceber em que lugar daquele caminho poderia ela estar. O caminho que estava desenhado no mapa só se cruzava com água duas vezes. Na Ribeira do Esquecimento e no Lago da Princesa. Aquela seria portanto a Ribeira do Esquecimento... Lia olhou melhor para o mapa e viu umas letrinhas minúsculas desenhadas ao lado da ribeira:
Se esta água quiseres usar
para a sede saciar,
duas vezes a Terra sobre si própria terá de girar
para que voltes a recordar.
Devia ter bebido daquela água. Mas agora isso não interessava, tinha mesmo que sair dali. Decidiu que fosse como fosse, o melhor era seguir o caminho indicado no mapa. Agora só precisava de atravessar a ribeira. O Sol estava alto no céu. Lia tinha que caminhar para Nascente. Sempre Nascente, até chegar ao Souto Real. Como a ribeira era pouco funda, Lia tirou os sapatos e iniciou a travessia.
Se esta água quiseres usar
para a sede saciar,
duas vezes a Terra sobre si própria terá de girar
para que voltes a recordar.
Devia ter bebido daquela água. Mas agora isso não interessava, tinha mesmo que sair dali. Decidiu que fosse como fosse, o melhor era seguir o caminho indicado no mapa. Agora só precisava de atravessar a ribeira. O Sol estava alto no céu. Lia tinha que caminhar para Nascente. Sempre Nascente, até chegar ao Souto Real. Como a ribeira era pouco funda, Lia tirou os sapatos e iniciou a travessia.
domingo, 14 de janeiro de 2007
A galeria dos meus heróis: Wolverine
Este homem resolve tudo. Pode não ter o maior poder ou as melhores habilidades, mas é O homem para resolver todas as situações. E tê-lo em casa dava jeitinho. Pelo menos nunca mais precisava de usar um abre-latas.
Peter Murphy
Ainda canta... A voz é mais rouca, mas a profundidade é a mesma. É sempre bom de ouvir. Superb!
E já foi tantas vezes verdade
Shame, such a shame
I think I kind of lost myself again...
I think I kind of lost myself again...
Dissolved Girl, Massive Attack
sábado, 13 de janeiro de 2007
A Ribeira do Esquecimento
Lia olhou em volta, na expectativa. A pedra azul estava mesmo quente, mas não se vislumbrava nenhuma criatura da floresta. Estranho. Foi então que Lia olhou para os ramos da árvore que estava mesmo à sua frente e viu um pássaro azul que parecia observá-la. "Olá!" - disse o pássaro - "Suri, ao teu serviço." Lia nunca tinha imaginado que alguma vez na vida fosse falar com um pássaro, mas disse, titubeante: "Olá... eh... n-n-não sei para onde é Nascente... preciso de caminhar até à Ribeira do Esquecimento..." "Está bem. Dá-me só um pouco da tua maçã e depois segue-me." Lia estendeu a Suri a sua maçã, que ele debicou com vontade. A seguir esvoaçou pelo ar, e pôs-se a saltitar de ramo em ramo: "Vamos, está na hora!" Esvoaçando e saltitando, lá ia Suri, com Lia a segui-lo atentamente. Se ele se afastasse demais, Lia deixava de o ver no meio da névoa, por isso ela corria de vez em quando. Assim andaram durante bastante tempo e Lia já estava a ficar cansada. A dada altura, a névoa começou a dissipar-se e já se conseguia ver o Sol. Nessa altura Suri parou um pouco e esperou que Lia chegasse ao pé dele: "Olha, já não precisas de mim e também já estás perto da Ribeira. Segue este trilho, e chegarás onde queres. Boa sorte!" E voou para longe, sem sequer dar tempo a Lia para que dissesse qualquer coisa. Seguindo aquele trilho, começava a ouvir-se a água a correr. Lia chegou por fim à Ribeira, cansada e com sede. Debruçou-se sobre a corrente de água fresca e com as mãos em concha bebeu abundantemente enquanto simultaneamente arfava de cansaço. Quando acabou de beber, levantou-se e olhou em volta. Mas que diabo estava ela a fazer ali?
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
quarta-feira, 3 de janeiro de 2007
O pergaminho
O papel tinha um aspecto de velho pergaminho e continha, ao que parecia, indicações de como chegar ao Castelo, mas Lia não entendeu muito bem tudo o que lá estava escrito. Havia frases com indicações simples, mas também havia versos e desenhos. Bom, a primeira parte era simples. Havia que sair da caverna e caminhar na direcção do Nascente até chegar à Ribeira do Esquecimento. Lia guardou alguns frutos na sacola e resolveu pôr-se a caminho, mas assim que saiu da caverna deparou-se com um espesso manto de nevoeiro branco. Não se via um palmo à frente do nariz. Oh! Que fazer agora, se não via o Sol? Para onde seria Nascente? No dia anterior, quando seguia Chi acabou por distrair-se e desorientar-se um pouco. Lia parou, tirou uma maçã da sacola e começou a roê-la enquanto desdobrava o pergaminho, procurando respostas. Começou a ler as várias anotações. Às tantas deparou com um verso que dizia:
Se algum caminho não conseguires encontrar,
a pedra azul terás que segurar
e saltando no ar,
Suri terás que chamar.
Ai, ai. Saltar no ar? Aquilo era coisa de Chi. Gozão como era, devia estar algures a rir-se dela, a observá-la e a dar aquelas risadinhas, à espera de a ver fazer figuras ridículas. Suspirou, pegou na pedra e fechou-a na mão. Frio. Suspirou de novo. Deu um salto e gritou: "Suri!"
A pedra começou a aquecer dentro da sua mão fechada.
Se algum caminho não conseguires encontrar,
a pedra azul terás que segurar
e saltando no ar,
Suri terás que chamar.
Ai, ai. Saltar no ar? Aquilo era coisa de Chi. Gozão como era, devia estar algures a rir-se dela, a observá-la e a dar aquelas risadinhas, à espera de a ver fazer figuras ridículas. Suspirou, pegou na pedra e fechou-a na mão. Frio. Suspirou de novo. Deu um salto e gritou: "Suri!"
A pedra começou a aquecer dentro da sua mão fechada.
terça-feira, 2 de janeiro de 2007
A caverna
A noite já estava a cair quando Chi e Lia entraram na caverna escavada na rocha. O archote iluminou o seu interior, que curiosamente não estava muito frio. Lá dentro encontrava-se o que parecia um abrigo: camas feitas com folhas secas, uma espécie de mesa e bancos. Em cima da mesa estava um cesto com frutos e havia também pão, peixe seco, um jarro e canecas. Chi colocou o archote num aro perto da entrada e acendeu uma vela que estava em cima da mesa. "Vem, Lia. Senta-te, come um pouco e depois descansa, pois amanhã tens o resto do caminho para fazer. Guarda a pedra que trazes contigo, é mágica." "Como sabias da pedra?" - inquiriu Lia. "Hihi! Hihi! O Chi sabe muita coisa, conhece a floresta e tem muitos amigos. Os amigos do Chi falam com ele e contam-lhe coisas. Viram-te a tirar a pedra do castanheiro, que aliás estava lá para isso mesmo. A pedra permite-te comunicar com os seres da floresta, como eu e outros de nós. Nunca sentiste que aquecia?" "Sim, às vezes fica quente, ou muito quente..." - respondeu Lia. "A pedra aquece quando estás na proximidade de uma criatura da floresta. Quando estás na posse dela, consegues ver-nos e falar connosco." - esclareceu. "Agora vem, vamos comer e beber!" Lia comeu e bebeu. O que estava dentro daquele jarro não era água, mas um néctar delicioso, que fez Lia ficar muito alegre e relaxada. Já não se sentia assim há muito tempo. Que maravilha! A sua mente toldou-se um pouco e foi deitar-se numa das camas de folhas onde adormeceu suavemente. Naquela noite Morfeu veio ter com ela como de costume, mas de manhã Lia não se lembrava bem para onde ele a tinha levado desta vez, só se lembrava de uma história sobre estrelas, um caçador e os seus cães. Lia acordou e olhou em volta. Chi tinha desaparecido, mas tinha deixado um papel em cima da mesa.
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