domingo, 25 de maio de 2008

Um anjo à chuva

De há uns tempos para cá, eu e mais uns quantos milhares de portugueses fomos forçados a apertar os cordões à bolsa. Ele é taxas euribor a subir desalmadamente, ele é gasolina a subir descontroladamente, ele é carreiras congeladas, enfim, uma angústia constante, acompanhada de inúmeras tentativas de controlar a situação, atacando nos mais diversos pontos de despesa. Um dos cortes que teve que ser feito, foi, infelizmente, o ginásio. Ora pelo facto de estar afastada do ginásio há cerca de dois anos, a minha consciência começou a ficar pesada. Claro que o problema principal não era o peso da consciência, mas sim a perspectiva de um peso acrescido na zona das ancas e coxas, coisa que quero evitar a todo o custo. Para poder comer uns oreos esporadica e descansadamente (e ainda conseguir mover-me em espaços apertados), decidi que tinha que meter os pés ao caminho do circuito de manutenção, que, por enquanto, ainda é de frequência gratuita.

Ora aconteceu que foi neste fim de semana que decidi que a coisa ou ia, ou rachava. Não havia intempérie que me pudesse afastar das minhas boas intenções, e, assim sendo, foi numa das abertas que aconteceram neste sábado de manhã que pus os ténis a rasgar o asfalto. Um sol glamoroso brilhava no céu, e lá fui eu, qual anjo de asinhas nas costas, direita ao parque urbano para dar uma corridinha (bom, não tencionava correr no primeiro dia, mas sim andar em passo acelerado, uma vez que na segunda feira teria que conseguir levantar-me da cama). Adiante. À medida que me aproximava do parque, o sol teimava em esconder-se por detrás de umas nuvenzitas acinzentadas, e assim que pus o pé no parque, senti umas gotinhas a afagar-me a face. Não andei nem cinco metros, e as gotinhas, ao invés de me afagarem a face, já teimavam em dar-me violentas estaladas. Resguardei-me então debaixo de uma árvore amiga, e eis senão quando, recebo um telefonema.

Como sou uma mulher moderna e tenho que estar sempre contactável, estou obviamente de telemóvel a ouvir música enquanto faço desporto, e portanto aquela coisa atende automaticamente. "Tou? Olá! Sim... não estou em casa... vim aqui ao parque dar uma corridinha... sim... por acaso não estás aqui perto, não? (Já imaginava nesta altura uma boleia salvadora) Ah não? Ah, tá bem..."

A conversa segue e a chuva também, quando num momento em que estou calada a ouvir, vejo aproximar-se uma transeunte desesperada por abrigo, que também parecia ser amiga da mesma árvore. Ela chega e abriga-se ao meu lado justamente na altura em que eu pergunto: "Mas então sacaste aquilo do mesmo site que eu?" A mulher olha-me com ar incrédulo. Faço um sorriso estúpido, acenando com a cabeça na direcção dela. "Sim... Olha... Depois falamos... adeus." Felizmente que a chuva abrandou entretanto, e raspei-me dali em passo rápido, com a mulher ainda a olhar para mim. Claro que isto ainda foi pior, a mulher deve mesmo ter pensado que eu era louca.

Bom, nada me desanima. Dou uma volta ao circuito e sigo para casa antes que caia outro aguaceiro. Amanhã é outro dia.

2 comentários:

MP disse...

ahahah... muito melhor que a NASA TV!
A chegada da Phoenix a Marte não chega, nem de perto, aos calcanhares destes teus relatos de cenas que te acontecem! :)

zorbas disse...

É daquelas coisas que só nos acontecem a nós! (Até descobrirmos que ao vizinho aconteceu algo de ridiculamente parecido - não leves isto do vizinho à letra, tipo Janota - refiro-me a qualquer espécime que vive nas tuas redondezas, mesmo que o desconheças.)