terça-feira, 21 de dezembro de 2010

As crónicas de Zoltar

Zoltar encontrava-se a viver na Terra há já alguns anos e tinha feito uma razoável adaptação aos hábitos terráqueos, mas por vezes ainda se espantava com alguns costumes dos habitantes daquele planeta azul.

Havia, por exemplo, a questão das datas. Os aniversários. Por que razão era tão importante comemorar um acontecimento apenas na exacta altura em que a Terra voltava a estar na mesma posição na sua órbita em torno do Sol? Não dava para entender! E ainda por cima, nem sequer era a mesma posição senão de quatro em quatro anos. Uma tontice, na verdade. Havia terráqueos que resolviam deprimir de 365 dias em 365 dias (ou 366...) se acontecia o aniversário de uma coisa triste, ou então ficavam (ou fingiam que ficavam) particularmente alegres naquele dia, se acontecia o aniversário de uma coisa alegre.

O Natal, por exemplo, intrigava bastante Zoltar. Sim, ele já tinha percebido que se comemorava o aniversário - lá está - do Messias Jesus. Só não entendia bem porque razão muitos terráqueos resolviam gastar quantidades absurdas de dinheiro naquela data, a dar presentes uns aos outros. É que se ainda fosse com vontade... mas Zoltar tinha-se apercebido que era uma obrigação para muitos. E ao que parece, ficava-se muito mal visto se não se desse presentes aos outros no Natal. Na realidade, Zoltar estava-se nas tintas para que lhe oferecessem presentes no Natal. A maior parte das coisas que recebia era completamente inútil e só servia para ocupar espaço. Preferia que lhe dessem alguma coisa de que precisasse noutra qualquer altura correspondente a qualquer outra posição da Terra em torno do Sol.

Outra coisa: no ano anterior, Zoltar tinha resolvido que não iria participar naquele costume absurdo dos presentes, mas ainda assim decidira cozinhar uns deliciosos gruffits (especialidade da sua aldeia em Zelmit) para levar para a consoada em casa de uns amigos. Tinha sido imensamente difícil arranjar os ingredientes para cozinhar os gruffits, mas tinham ficado perfeitos. A cor verde era apelativa, o aspecto gelatinoso era sedutor e a geleia de marmelo com que os cobrira era la pièce de résistance. Nunca perceberia porque nem lhes tinham tocado. Decididamente, a origem de uma pessoa, neste caso, de um ser vivo, vá... e o seu percurso de vida faz com que possa ser um eterno incompreendido para os que não a partilham.

Grunf.
Zoltar voltará a atacar.